terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O Lobo do Mar

Quando o jovem Humphrey van Weyden naufraga, é salvo pelos tripulantes do Ghost, uma escuna de caça à foca.
Ah, pobre sr. Van Weyden! Como sofreria naquela escuna! Que cruel destino a vida lhe foi reservar! Ser salvo pelo Ghost!
Imaginem-se, meus caros, salvos por uma escuna de caça à foca. Nenhum problema, certo? O capitão decerto irá parar no porto mais próximo e deixará você em terra.
Mas e se o capitão não fizer isso? E se o capitão quiser retê-lo para que você trabalhe para ele? Ah, como isso seria cruel! Imaginem ainda que o capitão é um homem que acha que a vida de nada serve. De nada serve, porque depois da morte o homem ganhará a vida eterna. Isso não é mentira, admito.
Mas para esse capitão, a vida é uma coisa muito barata. Uma coisa tão barata que não fará diferença alguma se for tirada ou não de você. Mas achar que a vida não vale nada e desprezá-la já é perigoso, pois ele não só despreza a vida dele como também a de seus companheiros. Sendo assim, você estaria em perigo constante. Pois é, essa escuna seria  mesmo um lugar terrível para ficar!
E - pobre sr. Van Weyden! - não é nessa escuna que ele está destinado a passar seus próximos meses? Na escuna de caça à foca Ghost! Uma escuna onde, se você passa de bote perto dela, é logo içado a bordo e posto pra trabalhar. E quem seria esse tal capitão, para quem a vida nada vale? Quem seria esse? Ninguém, se não o temível Wolf Larsen!
Humphrey van Weyden é um intelectual, um crítico literário. Não está acostumado com o rigor da vida no mar! Nunca precisou trabalhar com as próprias mãos pra continuar a viver! E de uma hora para a outra, Humphrey precisa "andar com as próprias pernas".
Acontece, que Humphrey pode contar com um pouquinho de sorte. Pois ele é um intelectual, que viveu sempre em meio aos livros e sabia usar a palavra ética. Ora, Wolf Larsen sempre sonhara em poder conversar com alguém que soubesse e usasse a palavra ética! Sendo assim, de vez em quando, Wolf Larsen o chamava pra conversar. Nesses dias, Humphrey estava livre de lavar louças e ouvir as palavras ásperas do cozinheiro. À medida que o tempo ia passando, Humphrey van Weyden começa a achar que conhecia melhor o capitão da embarcação.
Mas...

" O homem é inconstante como os ventos e as correntes marinhas. Nunca se pode imaginar. Quando a gente julga que já o conhece e que está a impressioná-lo bem, se vira contra nós aos berros e nos rasga as velas todas."

É como diz o livro. Nunca se pode imaginar.
Mas Humphrey van Weyden também tem bons argumentos e acaba tendo com Wolf Larsen grandes discussões a respeito da vida e a morte. São essas discussões que mais impressionam.

"Você fala do instinto da imortalidade. Eu falo do instinto da vida, que é viver, e que, quando a morte se figura próxima e iminente, vence o instinto da imortalidade."

E certo dia, vai passando perto do Ghost um bote com o que se imaginavam ser quatro homens dentro. O bote foi içado a bordo! Ah, mas o que se imaginavam ser quatro homens eram, na verdade, três homens e... uma mulher! Foi quando armou-se a confusão! O que acharia Wolf Larsen de ter a bordo uma mulher?
E como ficaria chocada a moça, ao descobrir que seria apenas mais uma prisioneira naquela escuna! Que Wolf Larsen não a desembarcaria no porto de Yokohama, que estava tão próximo! Que ela estaria condenada a conviver com um bando de homens até que acabasse a estação de caça à foca!
E a moça, de nome Maud Brewster, é uma nobre escritora, que, assim como o sr. Van Weyden, ganha a vida sem esforços de sua parte. Teria ela que aprender a andar com as próprias pernas? Quem a ajudaria e lhe traria consolo? O que se imaginava ser apenas mais uma história de aventuras no mar, acaba em uma linda - linda mesmo - história de amor!

Realmente, é um livro extraordinário!
Não sei se tem nome (e, se tem, não está no meu vocabulário) e não sei se conseguiria descrever a emoção que senti ao ler esse livro. Essa emoção apenas cresce quando releio as suas páginas! Tenho que me controlar muito na cadeira para não sair correndo e mandar todo mundo ler o livro! Como é sensacional! Fiquei, pelo menos, duas semanas elogiando o livro para quem estivesse ao meu lado!
A leitura não é difícil, mas precisa ter certa idade para entender tudo o que está escrito. Essas conversas que Humphrey e Wolf Larsen de vez em quando travam são de difícil compreensão. Tive que procurar algumas palavras no dicionário, tais como prole, altruísmo e hedonista.
Tem algumas coisas que só entenderei mais tarde. Por exemplo:

"Há uma quantidade limitada de água, de terra, e de ar, mas a vida que está à espera de nascer é ilimitada. A natureza é de uma prodigalidade infinita."

Sei que terei que crescer mais um pouco para compreender o que Jack London realmente quis expressar nessa frase. E estou louca para crescer o suficiente para isso! Quando essa idade chegar, lerei o livro todinho de novo! Ah, vou!
O livro tem cenas fortes, sim, mas são bem moderadas. Algumas lutas, motins, castigos, tempestades, ondas enormes...essas coisas! Mas o que seria do livro sem elas?
O Lobo do Mar pode agradar tanto a raparigas quanto a rapazes. Treze, catorze, até quinze anos! Não sei a idade certa para ler esse livro! Mas recomendo aos adolescentes e adultos!
Li o texto integral, sem dificuldades que não pudesse contornar. A história eu entendi bem e não vejo porque outras pessoas não leem esse livro!
Vamos lá! Todos nós somos como Humphrey van Weyden, precisamos aprender a andar com as próprias pernas. Eu pisei no chão molhado do Ghost assim que embarquei nessa história e aprendi muita coisa! Desde palavras novas e técnicas de navegação, até maneiras de encarar a vida e a morte!

NOTA: Eu prometi ler de novo este livro e voltar aqui para conversar com vocês. Não pensem que me esqueço de minhas promessas. Reli não só o livro como a minha resenha (achei-a demasiado longa e aqui estou eu, prolongando-a ainda mais!) e tenho umas palavrinhas a dizer a respeito: o livro é realmente tudo o que eu disse acima, mas ler aos dezenove anos é muito melhor do que ler com treze. Estou apaixonadíssima por O Lobo do Mar, praticamente absorvi todas as discussões filosóficas de Humphrey e Larsen. Fiquei digerindo o livro por semanas! Com certeza, recomendo a todos a leitura!

Título: O Lobo do Mar.
Autor: Jack London.
Recomendado a jovens de catorze anos ou mais.
Texto integral.

3 comentários:

  1. Parabéns! Você fez uma excelente resenha do livro! Eu assisti o filme há uns 8 anos atrás. E a situação foi curiosa: eu conversava pela internet com uma moça.E a TV ligada no meu quarto. Quando a escritora foi resgatada pelo barco, vi que a atriz era parecida com a moça minha amiga que falava comigo. Eu falei pra ela da semelhança e ela ligou a TV e assistimos o filme "juntos", na verdade, ela na casa dela, eu, na minha....

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  2. Nossa! Que interessante! Adoro coincidências assim! Obrigada por compartilhar!

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  3. Estou lendo. Para aumentar a aura sobre o autor, recomendo "Por um bife" e " O chamado da selva", livros dignos de tudo que foi ventilado acima.

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