segunda-feira, 29 de março de 2021

O Conde de Chanteleine

Ao sentir o duro e característico contato de um livro sob o papel de embrulho, exultei de alegria. Era meu aniversário. Abri o presente na mesma hora e minha boca se abriu também, para exclamar, surpresa e feliz: "Júlio Verne!". 
 
O nome do autor foi a primeira coisa que fixei com o olhar e esperava encontrar alguma de suas obras conhecidas: "Os filhos do Capitão Grant", "Cinco Semanas em um Balão", "Dois Anos de Férias", que eu conheço muito bem de vista, mas que ainda não tive ocasião de ler. 
 
No entanto, me deparei com um pomposo "O Conde de Chanteleine" e uma ilustração de tirar o fôlego: ali estava o Sagrado Coração dos Vendeanos! Uma história da Contrarrevolução! Como eu nunca tinha visto aquele livro antes? Um exame rápido do livro me deu a resposta: "Censurada pelo seu conteúdo católico e monarquista, "O Conde de Chanteleine" só seria publicado em formato de livro quase dois séculos mais tarde."

Dois séculos mais tarde! Senti como se em minha mão estivesse um jovem resgatado da prisão, após um injusto cárcere. Pior do que isso, um jovem que havia sido levado à prisão na mais tenra idade! Acho que foi esse pensamento que me fez acariciar e beijar o livro em minha estante até o momento de poder realmente lê-lo. Senti que precisava consolá-lo e não via a hora de principiar a leitura.

Finalemente terminei a leitura que estava fazendo e peguei meu amado presente. O Conde de Chanteleine: Uma história de amor de um nobre à sua família e à Igreja durante a Revolução Francesa. 

A história trata principalmente do conde, membro ativo do grupo dos Vendeanos. A guilhotina já trabalha sem parar, privando os nobres da vida, e Paris é antro de profanações e desordem. Nesse meio, o conde guia mulheres e crianças para algum refúgio, onde possam estar a salvo dos Azuis. 

O livro principia com uma ameaça ao Conde de Chanteleine. Um antigo criado de Chanteleine, expulso do castelo por traição, luta pela liberdade, igualdade e fraternidade, mas tem um objetivo secreto: se vingar do tratamento recebido do Conde, tempos atrás. Karval - esse é seu nome - envia um aviso ao Conde dizendo que sua família está em risco. O Conde se aflige imensamente ao compreender que Karval está planejando uma crueldade contra sua esposa e sua filha, e juntamente com seu fiel criado, Kernan, partem rumo ao castelo.

Porém chegam tarde demais. O castelo foi incendiado, não há viva alma nas redondezas. O que foi feito da condessa e de sua filha? Onde estão? Mortas ou aprisionadas? Em meio ao pranto, o conde deve encontrar fortaleza para agir segundo os desígnios de Deus. A ameaça de Karval e a incerteza sobre a vida de seus entes mais queridos lhe atormentam a alma, mas o Conde precisa manter a cabeça erguida ou ela se encontrará logo sob a guilhotina. Felizmente ele conta com a força e confiança de Kernan e valentes, eles vão a Paris, com um disfarce. Mas é mais fácil disfarçar as roupas do que o coração angustiado. Quem não desconfiará de um homem que chora em meio a tantos republicanos que festejam aos gritos? Essa história tem de tudo para interessar, comover e cativar os leitores.

Este é um livro católico, descrito com profundidade e sentimento, união que somente Júlio Verne consegue fazer.  Eu gostei muito do livro, se tornou o meu preferido do autor, e recomendo a leitura a jovens de minha idade, de dezesseis anos em diante. Eu li com calma, pois tive o que meditar com esse livro, chorei, suei frio (a capa do livro ficou molhada), mas amei. De verdade. É um livro incrível até a última palavra.

A edição traz uma extensa explicação do que foi a Revolução Francesa (confesso que tentei ler, mas não passei da metade), além de trazer um mapa da França, com os pontos principais do livro e ilustrações de  diferentes artistas que tornam a obra ainda mais bela. Agora só resta dizer: comprem, leiam e emprestem aos amigos!


Título: O Conde de Chanteleine

Autor: Júlio Verne

Editora: Centro Dom Bosco

Recomendado a jovens de dezesseis anos em diante.

Texto integral.


Os Três Monges Rebeldes


"Cister. Que lugar! Dificilmente poder-se-ia encontrar um lugar menos adequado para dar morada a seres humanos. Era um bosque pantanoso, escuro por causa das amontoadas e frondosas árvores, e úmido com a insalubre umidade dos lodaçais abundantes. (...) Alberico perguntava a si mesmo se seu Abade estabelecia alguma proporção entre afeto e esforço, entre santidade e luta; entre divinização e dificuldades. Se for assim, pensou, Roberto queria certamente alcançar o cume da mais alta santidade para seu pequeno grupo de vinte monges, que na realidade não estavam nada distantes da autêntica divinização, já que Cister significava dificuldades e rude luta."

O trecho acima foi retirado do livro Os Três Monges Rebeldes. O livro narra a história de São Roberto, Santo Alberico e Santo Estêvão Harding, de maneira romantizada, cativante e, sem dúvida, emocionante. Para aqueles que preferem livros com diálogos e gravuras, esse é o ideal!

 Os diálogos, as descrições, toda a narrativa fazem o leitor ser transportado para a Idade Média, introduzido no mosteiro de São Bento e animado pelo vivacidade de espírito e fortaleza de Roberto e seus companheiros.

"Sonhei em fazer homens voltarem a uma estrita observância da Regra, para que, desse modo, pudessem ser cavaleiros de Deus."  

O enredo prende o leitor de tal maneira, que o faz lamentar não estar aí entre os monges. Quantas vezes eu não lamentei durante a leitura! A obra do padre M. Raymond é louvável por sua integridade, mas eu diria que o que lhe confere essa excelência é sua narração tão viva. Ele faz com que os três santos monges ressuscitem para nós, quase como se estivessem ao nosso lado. E quem não quer ao nosso lado modelos de santidade como o deles?

Recomendo a leitura como uma de minhas preferidas, como uma das que mais me fizeram bem. Já faz um ano que li o livro, exatamente. Logo que terminei, estava em tal estado de animação e admiração pela obra dos cistercenses, que fui para o quintal (a pandemia não me deixava ir muito além), peguei na enxada e comecei uma horta. Deu muito certo e se algum dia ponho uma plaquinha, batizo-a Cister. 

 

Título: Os Três Monges Rebeldes

Autor: Padre M. Raymond

Editora: Minha Biblioteca Católica

Recomendado a jovens de quinze anos em diante.

Texto integral.